Archive for outubro, 2010

O perdao – pela visão da Ayurveda e do Yoga

A culpa é um sentimento tão antigo quanto a história da humanidade. Parece que já nascemos com essa “tatuagem” em algum lugar do nosso ser.  No Ayurveda, quem conhece um pouco as famosas constituiçoes energéticas, chamadas doshas (Vata, Pitta e Kapha), pode imaginá-la em diversas situaçoes; um Vata medroso e inseguro diria: por que tive medo e não fiz o que tinha que fazer? Um Pitta, de temperamento “quente”, diria: Por que fiquei tao irritado e não me controlei? E um Kapha, o mais ressentido dos três, cheio de mágoas: por que não consigo esquecer e me perdoar?

Fato é que, com razao ou não, todos nós sentimos e compartilhamos esse sentimento. O “diferencial divino” entre os seres está em como lidamos com isso, na capacidade de compreender e perdoar, quer seja a nós mesmos ou ao outro. Como vemos e processamos os fatos da nossa vida!

Se olharmos para o presente com peso das marcas do passado, utilizamos um filtro viciado, que turva e obscurece nossa visão, e tudo, então, passa pelo condicionamento dessa lente. Passamos a agir e reagir, de uma maneira diferente do que realmente gostaríamos, e a viver uma vida distinta da que sonhamos viver. Deixamos nossos sonhos e o que é pior, adoecemos. Assim iniciam-se uma série de desajustes orgânicos.

 Essa desconformidade entre o que vivemos e o que nosso Eu profundo, nossa alma, anseia viver, é a origem do adoecimento Vata (medos, inseguranças, problemas articulares e neurológicos); do Pitta (cólera, indignaçoes, hepatites, doenças inflamatórias, hipertensão e problemas cardiovasculares); e do Kapha (apego, depressão, edemas, obesidade, problemas metabólicos e diabetes).

Por sermos parecidos por natureza, mas em essência, tão diferentes uns dos outros, estranhamos as ações que não nos fazem sentido. Magoados, brigamos, nos afastamos. Passamos a Viver uma vida separada não apenas dos inimigos, dos aborrecimentos, como também dos amigos, do que nos traz alegria e de nossas crenças. Deixamos de ver o mundo de forma sadia.

Se retirarmos os óculos das experiências negativas, nossos olhos limpos não restringirão sua visão apenas à realidade criada pela mente, mas sim, perceberão a verdade da nossa realidade. Olharemos em essência. Seja justo ou não o que tenha nos acontecido, é possível renovar e reescrever uma nova mensagem.

A proposta do Yoga e do Ayurveda é simples e transformadora: Somos recriados a todo o momento, corpo e mente. Escolher com sabedoria o que nos formará, está em nossas mãos.  Desintoxicá-los e nutri-los com alimentos e hábitos adequados à nossa constituição; viver com o foco em cada ato singular e com a atenção plena no que está acontecendo são os ensinamentos dessa milenar arte de curar.

 A escolha livre de paradigmas do passado reescreve um novo caminho; como diz o texto bíblico, seguir sem olhar para trás!  Isso significa, perdoar. Nossos registros de sofrimento podem ser mudados.

As práticas de meditação e pranayamas ajudam a ampliar e renovar a nossa percepção e consciência. Respirar e relaxar! Respirar é trazer para nosso sangue um novo fluxo de oxigenio, um novo fluxo de pensamentos e de vitalidade. Assim como o ar entra e sai, o que não é mais necessário pode sair e o novo entrar.

Perdoar não apenas deixa-nos livres de doenças e das amarras emocionais do passado, mas traz à vida o perfume e o frescor do tempo presente.

 Maisa Misiara – Médica Homeopata, Ayurveda. Docente do Instituto de Cultura e Escola de Homeopatia, responsável pela Clínica Cítara Saúde.

Add comment outubro 21st, 2010

Perdão – parte 2

 “Abra seu coração, abra seu sentimento, abra seu entendimento, deixe de lado a razão e deixe brilhar o sol escondido em seu interior”.

 A culpa e a dificuldade de perdoar, segundo o Yoga e o Ayurveda, estão diretamente relacionadas ao desequilíbrio do quarto chackra (chamado de Anahata) da nossa antomia sutil. Os chackas são como filtros que nos permitem trocar informações, sentimentos e impressões com o exterior e, por sua vez, recebem as impressões vindas do mundo.

 O quarto chackra, também conhecido como cardíaco governa sutilmente o coração, sistema circulatório, pulmões, ombros e braços, costelas e seios, diafragma e tem sua correspondência bioquímica com a glândula timo.

 Timo vem de tymus, palavra grega que quer dizer energia vital. Esta glândula está bastante ativa na primeira infância e vai gradativamente diminuindo suas funções ao chegar à maturidade. Quando esta glândula está ativa o organismo não envelhece. O timo é um dos pilares de sustentação de nosso sitema imunológico, juntamente com as glândulas adrenais. É extremamente suscetível às emoções como o amor ou o ódio.

 Estudos psicológicos diversos pesquisaram o impacto que nossos relacionamentos têm no sistema imunológico e concluiram que compartilhar sentimentos e situações que nos incomodam podem ter um impacto bastante positivo sobre nossa imunidade. É preciso desenvolver as qualidades positivas do quarto chackra que são amor incondicional e a compaixão. Para que o amor seja despertado, é necessário curarmos as feridas emocionais (mágoas) através do perdão e da liberação do passado e suas influências no presente.

 A prática de Yoga pode ser bem benéfica para iniciarmos um processo de liberação das emoções reprimidas. Algumas sugestões de prática:

 USTRASANA – postura do camelo (Ustra = camelo)

  • Postura:
  1. Ajoelhe-se e fique com joelhos e pés unidos, peitos dos pés apoiados no chão com os dedos relaxados;
  2. Encaixe o quadril, deixe o abdômen firme e a coluna ereta;
  3. Apóie as mãos espalmadas na base da coluna, parte posterior do quadril;
  4. Leve os ombros e cotovelos cada vez mais para trás com a intenção de aproximar os cotovelos;
  5. Mantenha o quadril na mesma linha que os joelhos, não projete o quadril para frente ou para trás, fixando-os;
  6. Ainda com o quadril encaixado, contraia glúteos e abdominal, incline o tronco para trás e aponte seu queixo para cima;
  7. NÃO projete o quadril para frente com a pressão das mãos;
  8. Apóie as duas mãos espalmadas na sola dos pés, abrindo ainda mais o peito, apontando-o para cima;
  9. Caso tenha dificuldade nesta etapa, tente as seguintes alternativas:
  • Afaste um pouco os dois joelhos um do outro;
  • Apóie as mãos nos calcanhares;
  • Apóie as mãos nos calcanhares com os dedos dos pés virados para o chão;
  1. Se ainda for difícil, pule os passos 8 e 9;
  2. Intenção de crescer a coluna e o pescoço para cima e para trás;
  3. Mantenha a postura estável e confortável;
  4. Concentre-se em respirações profundas e tranqüilas (5 a 12 respirações no início);
  5. Finalizando: com a força dos pés e joelhos empurrando o chão, volte o apoio das mãos na base da coluna, leve o tronco na mesma linha que o quadril, voltando para a posição vertical.
  6. Para descansar, leve o quadril na direção dos calcanhares, testa na direção do chão e braços ao longo do corpo.
  • Dicas importantes
  1. Evite esta postura se estiver com problemas intestinais, pressão alta, dor de cabeça ou se for cardíaco;
  2. Fique atento à posição do quadril e das pernas, o mais importante na postura é mantê-los estáticos enquanto a inclinação ocorre somente na parte superior do corpo;
  3. Proteja a sua lombar mantendo o encaixe do quadril a todo o momento;
  4. À medida que inclina o tronco para trás, cresça a coluna. Tanto a parte posterior como a anterior do tronco devem estar alongadas.

Caso sinta desconforto na coluna torácica ou lombar, diminua a inclinação do tronco para trás.

  • Efeitos benéficos da postura:
  1. Diminui a rigidez das costas, ombros e tornozelos, mantendo a coluna flexível e saudável;
  2. Alonga da região anterior dos braços e do corpo;
  3. Fortalece o sistema imunológico;
  4. Abre o coração, mantendo a disponibilidade e a entrega para as relações afetivas.

UJJAYI (Ud = para cima, de nível superior, soprar, expandir, proeminência, poder; Jaia = conquista, vitória, triunfo, sucesso, coerção, restrição) – respiração onde os pulmões são completamente expandidos e o tórax se torna dilatado como o de um orgulhoso conquistador

  • Instruções:
  1. Sente-se confortavelmente em Sukhasana (pernas cruzadas) ou numa cadeira, com a coluna ereta, olhando para frente;
  2. Durante uma expiração prolongada, murmure a palavra haaaaa de forma que esta respiração produza um ruído de leve fricção ao passar pelo palato (entre a boca e a garganta); é um som semelhante ao de embaçar um vidro, ou ainda o som que ouvimos no interior de uma concha.
  3. Experimente fazer com os lábios abertos e quando estiver sentindo a vibração suave do som na pate de trás da garganta, passe a fazer a respiração de lábios fechados.
  4. Sentindo facilidade, experimente produzir o mesmo som ao inspirar.
  5. Complete o ciclo da respiração – inspiração, pausa com o ar nos pulmões e expiração – repetidas vezes. O tempo deve estabelecer uma proporção de 1:2:2, ou seja, se for inspirar em 4 segundos, retenha 8 e exale 8 segundos.
  6. Esta prática deve ter a duração média de 15 minutos.
  7. Observe se o som de sua respiração é seco como o vento e oco e não anasalado.
  8. As narinas devem estar relaxadas (não puxe o ar com força, deixe a respiração acontecer naturalmente).
  9. Algumas pessoas conseguem realizar esta respiração com facilidade, outras levam mais tempo para aprendê-la. No entanto, não desanime. Faça quantas respirações precisar com os lábios abertos até conseguir!
  10. Não faça se estiver com irritações ou inflamações na garganta.
  11. Acalma a mente e os sentidos;
  12. Traz leveza, bem estar e tem efeito energizante;
  13. Promove tranquilidade e, ao mesmo tempo, força para lidar com as adversidades da vida.
  • Dicas importantes:
  • Efeitos benéficos deste pranayama:
  1. Acalma a mente e os sentidos;
  2. Traz leveza, bem estar e tem efeito energizante;
  3. Promove tranquilidade e, ao mesmo tempo, força para lidar com as adversidades da vida.

FLÁVIA MAIMONI RIBEIRO – psicóloga, instrutora de Yogaterapia e Terapeuta Ayurvédica. Busca integrar os conhecimentos da saúde milenar do Yoga e do Ayurveda com a ciência moderna ocidental.

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